terça-feira, 22 de abril de 2014

A ultima viagem de Garcia Márquez

 



Em Cem Anos de Solidão somos participantes na busca desse território narrativo, em companhia de José Arcadio Buendía e de múltiplas personagens, criadas e recreadas, a cada passo, por Gabriel Garcia Marquez. Para trás ficou a terra dos nossos antepassados e vamos agora caminhar com mulheres e filhos à procura de um novo lugar, que nos permita expiar os pecados outrora cometidos.

Partimos juntos com estes companheiros de viagem, qual rito de passagem, até uma nova terra para aí nos instalarmos, fundar uma cidade, ou um povo e construir uma casa. Folheadas paginas após páginas, ultrapassamos frases que enunciam acontecimentos, movimentos constantes de pessoas e coisas, num ritmo avassalador, deambulamos por tópicos diversos, onde se incluem o CORPO e a sua morte, a ação política, o SEXO (por via, tantas vezes, de relações imaginárias, centradas na busca do prazer e satisfação corporal), mas também há superstições e crendices populares que acabam por se tornar realidade, e outras tantas incursões temáticas como à frente veremos.

A procura da terra não prometida pressupõe à partida uma decisão vital do fundador e da comunidade a que pertence: a sacralização do espaço eleito para habitar. Macondo, de seu nome, constitui, assim, o LUGAR matricial, onde praticamente toda a historia de Cem Anos de Solidão se vai desenvolver. É neste microcosmos pantanoso que vão emergir e submergir intrincadas e trágicas relações genealógicas, que acabarão por constituir e determinar as condições de existência dos seus membros.

Aqui instalados, podemos assistir então a castigos por transgressões várias, que vão desde o incesto ao homicídio, ao desejo, às obsessões, e a relações com o dinheiro e o trabalho. Cem Anos de Solidão, põe em evidência uma escrita para a qual não existem temas tabus. Gabriel Garcia Marquez conta-nos uma história que se adentra por vivências quotidianas, intemporais, quase sempre temperadas com o aroma do designado realismo mágico (criaturas que comem terra e vomitam líquidos verdes com sanguessugas à mistura,) e outros elementos figurativos do mundo fantástico/maravilhoso, que compõem a narrativa prodigiosa de Garcia Marquez. Por exemplo, um filho com rabo de porco, cadáveres intactos durante quatro meses, as aparições de mortos, a chuva de flores, uma casa fora do tempo, a morte personificada ou mulher sedutora e mortal, seres invisíveis e por aí fora. Estamos no dominio de um narrador (omnisciente) que manipula a história e as personagens a seu bel prazer, pois está situado por cima dos acontecimentos. Por isso, e não raras vezes, somos confrontados com jogos de ironias narrativas, em que determinada personagem tem uma morte anunciada que não chega a ocorrer, enquanto outras sucumbem inesperadamente, Enfim, um universo narrativo, que preenche o imaginário de qualquer leitor, mesmo o mais exigente e que acabou por canonizar Cem Anos de Solidão e Gabriel Garcia Marquez. Leitura obrigatória




Cota na  Biblioteca Central LL 2.6 724

Sem comentários:

Enviar um comentário