Cesário verde
(1855 - 1886) não viveu o tempo suficiente para nos deixar uma obra literária
abundante. Contudo, a sua poesia representou as preocupações de um certo modo de
vida finissecular. Consciente do vazio mental que o país padecia, o poeta nunca
se alheou do espaço vital em que se movimentou. Há em Cesário Verde uma
construção poética, que assenta na expressão viva e colorida duma realidade por
vezes cruel, que se fixa principalmente nos sentidos:
“Bóiam aromas,
fumos de cozinha;
Com o cabaz às
costas, e vergando,
Sobem padeiros,
claros de farinha;
E às portas, uma
ou outra campainha
Toca, frenética, de vez em quando. “
Ele é o poeta do
OLHAR, que deambula pela cidade e capta o instante, como se de uma máquina
fotográfica se tratasse; retrata e retrata-se nela, registando a medida exata
das coisas e das pessoas, sem preocupações metafísicas, que possam atribuir
conotações de natureza subjetiva, ou que transfigurem a realidade nua e crua.(
Caeiro, mais tarde, haveria de lhe seguir os intentos). Nos seus poemas
tudo aparece limpo e transparente. O poeta
incorpora-se na matéria como se dela fizesse parte, todos os sentidos são
epidérmicos e completam um mosaico de sons, luzes, cheiros, coisas do mundo que
o OLHAR, a cada passo, vai reinventando. Estamos no domínio de uma
linguagem que serve de ponte para a sua poesia, e que, simultaneamente celebra
um pacto com a vida.
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